Procuradoria vê danos de R$ 122 milhões no combate à pandemia e vai à Justiça contra Pazuello 

Ministério Público Federal descreve seis ‘omissões’ do ex-ministro da Saúde com relação às ações de combate à pandemia da covid-19, entre elas a 'negligência' com a compra de vacinas e 'adoção ilegal' do ‘tratamento precoce’

Procuradoria vê danos de R$ 122 milhões no combate à pandemia e vai à Justiça contra Pazuello  Erasmo Salomão/MS Notícia do dia 02/07/2021

O Ministério Público Federal entrou com ação de improbidade administrativa contra o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, atribuindo ao aliado do presidente Jair Bolsonaro uma longa série de omissões relacionadas ao combate à pandemia da covid-19, entre elas a ‘negligência’ na compra de vacinas para imunizar a população ainda em 2020 e a ‘adoção ilegal’ do chamado ‘tratamento precoce’ (adoção de medicamentos sem eficácia comprovada cientificamente) ‘como principal ação de política pública para enfrentar o coronavírus’. A Procuradoria aponta quase R$122 milhões de dano ao erário.

“Se as decisões de gestão – que deveriam ser técnicas – são adotadas por força de influências externas, está comprovado o comportamento doloso ilícito do Ministro e perfeitamente configurado o ato de improbidade administrativa que, em última análise, é a deslealdade qualificada da conduta do agente público frente ao cidadão a quem deveria servir – é a imoralidade manifesta no trato da coisa pública, visto que a decisão, que deveria ser de âmbito técnico, é adotada para privilegiar, atender, beneficiar não a coletividade/ o interesse público mas sim sentimento pessoal ou interesse de terceiro”, afirmam os procuradores na ação protocolada nesta quarta, 30.

 

Na peça enviada à 20ª Vara de Justiça Federal em Brasília, a Procuradoria também ressalta que Pazuello foi ‘injustificadamente omisso na ampliação de testes para a população e na distribuição de milhares de kits de testes PCR, a ponto de perderem a sua validade nos almoxarifados do Ministério da Saúde’. Além disso, o MPF indica que o ex-ministro ‘agiu deliberadamente para dificultar o acesso da sociedade às informações essenciais sobre a pandemia, suprimindo a publicidade de dados relevantes ao seu acompanhamento e evolução’.

Os procuradores afirmam ainda que o ex-ministro da Saúde também foi omisso: no papel de gestor nacional do SUS, ‘ao deixar de coordenar ações de controle, aquisição e distribuição de medicamentos essenciais para pacientes internados por Covid’; e na realização de campanhas informativas e educacionais sobre a necessidade de distanciamento social e o uso de máscaras.

Com relação às vacinas, a Procuradoria aponta que a resistência de Pazuello em negociar a contratação e a aquisição de vacinas, ‘com a antecedência o planejamento necessários, é injustificável e irrazoável’.

Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro. FOTO: GABRIELA BILO/ESTADÃO

 

“A omissão e a negligência do ex-ministro da Saúde no trato das negociações das vacinas custou caro à sociedade (que sofre os efeitos sociais de uma economia em crise e sem perspectiva de reação), à saúde da população (que amarga índices descontrolados de morbidade e mortalidade por covid-19) e ao SUS (cujos leitos de UTI Covid adulto, só no primeiro semestre de 2020, custaram R$ 42 milhões/dia ou R$ 1,27 bilhão/ mês)”, afirmam os procuradores.

Danos

Para apontar o dano de R$ R$ 121.940.882,15 com as ‘omissões’ no combate à pandemia, os procuradores levaram em consideração: os valores alocados pelo Exército para a produção de cloroquina e sua distribuição; o montante gasto pelo Ministério da Saúde para aquisição de 3,75 milhões de comprimidos de cloroquina; as cifras investidas nas em campanhas promocionais do tratamento precoce; e os recursos despendidos para a aquisição dos 2,3 milhões de kits de testes PCR perdidos por expiração da validade, estimada para o final do mês de maio.

A Procuradoria frisou que a ação enviada à Justiça nesta quarta, 30, não pediu ressarcimento por dano moral coletivo ou pelas perdas de milhares de vidas, decorrentes de eventuais condutas de Pazuello e de outros agentes públicos, no contexto da pandemia. Isso porque tal apuração ainda está em andamento em um outro procedimento do MPF no Distrito Federal.